Através da janela ...
Foram tantas manhãs, que
através da janela eu vi...
Pessoas correndo
tanto, sem saber ao certo para onde estavam indo.
Me questionei
inúmeras vezes se realmente estavam na direção que seu coração queria.
Vi seres tão simples, cobertos com pedaços de panos preto e branco
e sem griffe, mas com a alma tão esplêndida...
Que aos meus olhos
eram muito mais belos que alguns esqueletos, que se enfeitavam de belas
etiquetas,
Mas que não emitiam
colorido nenhum.
Através da janela eu
vi ...
Universitários que não aprenderam na faculdade de casa, a ceder lugar no ônibus para crianças e
idosos.
Me surpreendi ainda
mais quando, apesar de estudarem p/ abrir sua “visão” diante do mundo...
Se faziam de cegos e surdos para continuarem
confortavelmente sentados em suas poltronas.
Vi seres tão falantes que diziam coisa nenhuma e
outros tão quietos, mas que tagarelavam o tempo todo com seus olhos
inquietantes.
Ah! Como eu vi
pessoas tristes e outras tão felizes sem motivo algum.
Mas eu mesma, na
minha solidão, hora me sentia alegre com o que via, hora também me entristecia por não ver o que
gostaria.
Como vi passar seres
invisíveis, aqueles que não fazem a
mínima questão de serem percebidos.
Em compensação,
também vi outros que quase se multiplicavam diante dos meus olhos...
Estes jamais
passariam despercebidos, mesmo que quisessem.
Através da janela eu
vi...
Horas que pareciam
minutos e segundos que se transformavam em horas diante de mim.
Engraçado como o
tempo muda conforme a importância que damos p/ ele.
E ainda vi que é
possível estar quase sozinho, mesmo rodeado de pessoas por todos os lados...
Viajar numa aventura louca, onde é possível se tornar íntimo de alguém
sem nome nem endereço em uma fração de segundos.
De tudo que vi o que
mais me entristecia, era olhar embaixo daqueles viadutos, pontes e Arroio Dilúvio
E ver seres humanos
vivendo ali, de uma forma quase “natural” e virando paisagem p/ todos que passavam.
Cheguei a questionar se alguém perceberia a diferença
de um corpo sonhando ou morrendo.
Sheila Kolberg